domingo, 1 de agosto de 2010

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PENSAMENTO NACIONAL
Quanto vale um conselho
HSM Management perguntou a 25 dirigentes de empresas de grande  sucesso no Brasil qual era o melhor conselho que eles haviam recebido  na vida, tão bom a ponto  de ter ostensivamente influenciado sua vitoriosa carreira. E surpresa: a necessidade de buscar a felicidade, a aceitação do diferente, a simplicidade e a preocupação com os outros também revertem em sucesso.
Quanto vale um  conselho? "Se conselho fosse bom,  ninguém dava; vendia."  Este é um dito popular muito  antigo  no Brasil, e bastante utilizado  por quem  não aceita ouvir conselhos.
Mas, ao que tudo  indica,  a sabedoria popular errou nesse caso. Em vez do ceticismo escondido nessas palavras, um sentimento sincero  de gratidão aflorou na consulta  feita por HSM Management a 25 brasileiros  extremamente bem-sucedidos.
Eles fizeram mais: mostraram que, ao contrário do que muita gente pensa, os vencedores não nascem prontos; eles se desenvolvem  e com ajuda de familiares e de mentores.
"Tive a felicidade de conviver, ao longo da minha vida, com pessoas de grande sabedoria que não só me deram  preciosos  conselhos mas transformaram minha  forma de pensar  e agir. Poderia me lembrar de mais de uma centena deles", afirmou, por exemplo, Christina Carvalho Pinto.
Christina e outros  24 empresários e executivos  foram  solicitados  a responder a uma única  pergunta: "Qual foi o melhor conselho que o senhor/a senhora já recebeu e que fez diferença em sua carreira?".  E, para  quem  imaginava  que  as respostas  teriam  o viés ultracompetitivo da nova economia, ofereceram uma lição surpreendente: ainda são valores como a disciplina pessoal e a preocupação com os outros que pavimentam o caminho para o sucesso sustentável.
HSM Management reuniu uma amostra  representativa de dirigentes empresariais. Os líderes  consultados são brasileiros  de diferentes regiões  do País, como  o mineiro Alair Martins,  o baiano  Emílio Odebrecht e o catarinense Décio da Silva, e até brasileiros  da China  e do Japão, como Robert  Wong e Chieko Aoki. Têm origens  diversas, como Fábio Barbosa, neto de fazendeiro, ou Edson Bueno, que passou uma infância pobre no interior paulista. E quanto à faixa etária,  como definiu Wong, são jovens de diferentes idades.
As empresas  que esses líderes comandam também formam um mosaico diversificado. Dividem-se em industriais, comerciais e de serviços e, enquanto algumas  estão na linha de frente da tecnologia, outras  carregam marcas  mundialmente  conhecidas –inclusive brasileiras,  como a H. Stern, de Richard  Barczinski. Elas variam entre grande e pequeno porte,  e, neste  caso, são obrigatoriamente destaques em seu segmento de atuação.  E revezam-se entre o controle nacional e as multinacionais.
E quem  são os conselheiros lembrados? Pessoas da família  aparecem em  primeiro lugar dos 25 líderes  entrevistados, 12 citaram  conselhos de um parente. Antigos chefes também provaram ter grande influência na trajetória de seus subordinados, como  fica evidente em dez casos.
Foram mencionados ainda professores, categoria que aqui abrange desde professores universitários até instrutores de programas de treinamento, passando por  consagrados autores  de livros de administração.
Como  comentou um dos executivos  procurados, fosse esta reportagem nos Estados Unidos,  é possível que os executivos  procurados já sacassem uma listinha  dos conselhos que anotaram ao longo dos anos; no Brasil, requer-se tempo  para pensar,  pois ninguém é tão disciplinado assim. Tanto melhor. Isso levou os entrevistados a refletir profundamente sobre os ensinamentos que realmente incorporaram e aplicam  em seu cotidiano e que, a seguir, compartilham gentilmente com os leitores de HSM Management.
Voltando  à pergunta inicial sobre quanto vale um conselho: ele pode  não valer nada. Mas, se efetivamente "implementado", pode  valer tudo.  Cada conselho deste artigo é um convite à reflexão. Aproveite!
OZIRES SILVA
Presidente da Pele Nova Biotecnologia e fundador da Embraer – Indústria tecnológica
"Muitas vezes, o comodismo ou cansaço me fazem querer faltar a algum compromisso. Mas reúno forças, lembro-me das palavras de um velho comandante da Força Aérea Bra- sileira (FAB) e acabo indo.  Ele gostava de dizer: 'Somente tem sorte quem  vai'.
"A frase pode  soar estranha, mas vou explicar  seu contexto. Eu e mais nove colegas dávamos nossos primeiros passos como oficiais-aviadores da FAB na Base Aérea de Belém, Pará. Certo  dia, um deles foi designado por nosso comandante para  representar a Base em um evento e ficou desalentado; para cumprir a missão, deixaria  de fazer um vôo!
"Percebendo seu desânimo, o comandante fitou-o nos olhos e ensinou: 'Somente tem sorte quem vai. Quem fica, seja qual for a razão, pode perder uma expressiva oportunidade'. Resignado, meu colega foi. Ao voltar, soube que seu substituto sofrera um acidente fatal.
"Ao longo da minha  vida, tenho pensado sempre  nisso. Poucas foram as vezes que me arrependi de comparecer a algum compromisso. E, em diversas ocasiões, realmente ganhei por ter estado presente. Procuro usar de muita prudência quando dou um conselho, mas, nesse caso, acredito que o que ouvi do meu comandante faz todo o sentido  na vida competitiva de hoje, em que as oportunidades surgem  nos momentos mais inesperados. Por isso, repito:  só terá sorte quem  for."
JAYME BRASIL GARFINKEL
Presidente da Porto Seguro Seguros Serviços de seguros
"Quando finalmente decidi ingressar  na Porto Seguro, empresa dirigida  por meu pai, Abrahão  Garfinkel, eu tinha  apenas  27 anos de idade  e muitas ambições  individualistas, típicas de qualquer jovem executivo.  Eu havia trabalhado em outras  empresas  e queria consolidar carreira na  Porto.  Ao compartilhar isso com  meu  pai, recebi  um  conselho fantástico:  'Você só será grande se a empresa for grande também'. De maneira simples e direta,  o conselho me fez compreender que,  ao contrário da minha  tendência naquele momento, o importante era pensar  no coletivo e não somente em meus interesses  individuais dentro da corporação.
"As palavras do meu  pai ecoaram por  toda  a minha  carreira, servindo  como  sólido alicerce para a construção dos meus princípios pessoais e profissionais e para o sucesso da Porto Seguro. Meu conselho hoje para os jovens executivos é que sempre interajam com o mundo ao seu redor: pensem na equipe e se desprendam dos interesses pessoais. O ápice do sucesso só é atingido quando o coletivo passa a ter mais significado que o particular."
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AMAURY OLSEN
Presidente da Tigre S.A. – Indústria de materiais de construção de PVC
"Em 1989, fui convidado pelo presidente, fundador e principal acionista da Tigre, João Hansen Junior, para assumir a diretoria industrial. Respondi que não era engenheiro, minha formação principal é em administração de empresas. Mas o sr. João, com sua sabedoria, argumentou que tudo  que eu precisava para assumir essa diretoria era de bom senso.
"Naquela época eu estava em função de staff na companhia e a Tigre não vivia um bom momento, com fábricas obsoletas, gestão inadequada de pessoas, níveis hierárquicos em demasia,  banheiros deteriorados, restaurantes com comida  ruim  e, conseqüentemente, baixa produtividade. Munido  de bom senso, fiz, com minha  equipe, as modernas e produtivas fábricas da Tigre, que hoje são benchmarks mundiais.
"Esse conselho, do nosso então  presidente, tem sido válido em muitas das minhas  de- cisões e 'pavimentou' minha  trajetória para que, em 1995, eu fosse convidado para ser o presidente da empresa, função  que exerço  até hoje. Foi tão útil que tenho repetido esse conselho, aparentemente simplório, mas incrivelmente eficaz, para muitas pessoas."
RICHARD BARCZINSKI
Presidente da H. Stern – Indústria e comércio de jóias
"Em 1996, havíamos acabado de alugar nossa loja da rua Oscar Freire, em São Paulo, e fizemos um projeto de arquitetura com nossa equipe interna. Já tínhamos o layout pronto quando Roberto Stern  me perguntou por  que  não  tentávamos algo totalmente novo e diferente do que havia sido feito até então.  Sem querer, ele me chamou a atenção sobre a importância de pensar  diferente e explorar os variados ângulos  e visões de um mesmo assunto.
"Essa loja da Oscar Freire foi o laboratório para o desenvolvimento de uma nova linguagem de arquitetura que viria a tomar  forma e ser o nosso padrão mundial de loja. E passei desde então, como regra diante de qualquer desafio, a discutir soluções diferentes, criativas e instigantes. Eu me monitoro para não me acomodar em fazer as coisas sempre  iguais.
"Se fosse dar outro  conselho, talvez dissesse: 'Não seja o dono  da verdade'.  É preciso ser humilde, ouvir os conselhos alheios e aprender com eles. Isso e a disposição  para enxergar as diversas alternativas possíveis são os passos fundamentais do processo de tomada de decisão nos negócios."
ALAIR MARTINS
Presidente do Grupo Martins – Comércio atacadista
"Minha família cuidava da roça numa  pequena propriedade da zona rural  de Martinésia, distrito  de Uberlândia, Minas Gerais. Desde menino tinha  decidido mudar para a cidade  e trabalhar no comércio. Então,  meu  pai me disse: 'O melhor conselho sempre será o bom  exemplo'. Ele se preocupou em falar isso porque queria  que  eu servisse de exemplo para meus irmãos e temia que eu perdesse, na mudança de atividade, os valores que ele tanto  respeitava:  ética, humildade, justiça e lealdade. Segundo ele, só é possível confiar nas pessoas que  praticam aquilo  que  exigem  dos outros.  E seus filhos deveriam ser pessoas assim.
"Esse conselho me levou a lutar  para  melhorar sempre, tanto  no aspecto  profissional como no pessoal. Sendo cada vez melhor, eu poderia dar exemplos cada vez melhores de trabalho, persistência, determinação e garra, e ter credibilidade cada vez maior. Adotei o conselho paterno como lema, portanto, e o divulgo sempre  por toda a nossa organização.
"Se um jovem executivo me pedisse um conselho, eu diria isso, mas também falaria sobre como é vital amar muito tudo o que se faz e ser inovador, estando sempre disposto a aprender e a aperfeiçoar as coisas. Não existe nada no mundo que não possa ser melhorado."
MANOEL AMORIM
Presidente da Telefônica São Paulo – Serviços de telefonia
"Eu era gerente de produto da Procter & Gamble  em 1992. Fernando Aguirre  era o presidente da empresa no Brasil e, claro, meu  chefe.  Ele me disse o seguinte:  'Manoel, você deve escolher, a cada ano que entra,  um ou dois projetos  grandes em que possa fa- zer a diferença e concentrar todo o seu foco, todos os seus esforços'. Isso significa pensar grande e conseguir executar, priorizando recursos de todos os tipos para o projeto focado. Essa idéia tem pautado minha  carreira desde então.
"Posso dizer que o conselho tem funcionado muito bem para mim e acho que deu certo para ele também. Hoje Aguirre, que é mexicano, é o CEO da Chiquita Brands,  empresa norte-americana bastante bem-sucedida."
EMÍLIO ODEBRECHT
Presidente do conselho de Administração da Odebrecht  S.A. – Construção civil
"Melhor do que qualquer conselho é o bom exemplo. E, ao longo de minha  vida –na infância, na adolescência e no transcorrer de minha  carreira profissional–, fui encontrando nos bons exemplos as mensagens que me serviram muito  mais que os eventuais  bons conselhos. A mensagem fundamental, aprendida nos exemplos de meus avós e de meu pai, foi: 'É melhor servir do que ser servido'.
"Há outras  mensagens que  quero destacar, recolhidas nas relações  de trabalho com líderes e liderados, no desafio cotidiano do empresariamento: 'Transforme os problemas em oportunidades e seja persistente, sempre. Se a circunstância obrigá-lo a atravessar um charco,  saiba sair limpo  do outro  lado. Conviva e aprenda com a natureza e nunca tire dela mais do que precisa para sobreviver. A hierarquia está sempre  nos objetivos e o que importa é o que  é o certo,  não  quem  é o certo.  Em qualquer circunstância, o enfoque deve ser sempre  na contribuição'.
"Essas mensagens guiaram  muitas das minhas  atitudes e decisões. Por isso, se fosse dar um conselho a um jovem executivo,  diria  que  faça uso delas como  eu fiz e as divulgue entre seus pares e os demais jovens de sua empresa. Estou certo de que lhes serão muito úteis."
WASHINGTON OLIVETTO
Presidente da W/Brasil – Serviços de comunicação
"Eu estava começando na Lince Propaganda como redator de publicidade. Tinha  19 anos de idade e apareceu a oportunidade de escrever meu primeiro comercial de televisão. Era um filme para as torneiras Deca com MVS (Mecanismo de Vedação Substituível), que impedia vazamentos.  Escrevi um roteiro no qual  um pingo  d'água  caía da torneira em seqüência, transformando-se em rios, cascatas etc. e tal. Meu diretor de criação,  Sergio Graciotti,  leu o texto e comentou: 'A idéia é ótima, mas tente  deixar  mais simples'.
"Depois de ouvi-lo, mantive só o tal pingo em close repetidas vezes, enquanto a locução em off explicava a idéia. Graças a esse conselho, o filme ficou sintético  e perfeito, tendo inclusive  ganhado um  Leão  em  Cannes  naquele ano  –coisa que  na  época  era  praticamente impossível para  a publicidade brasileira  e para  um garoto  como eu, no primeiro emprego, uma espécie de sonho  inimaginável. Aprendi  naquele momento que, tanto  na publicidade como na vida, o mais simples é o melhor. E já repeti  esse conselho inúmeras vezes por aí."
PAULO BELLINI
Presidente da Marcopolo  S.A. – Indústria de carrocerias de ônibus
"'Filho, tem  o máximo  de  cuidado e consideração quando tratares  com  pessoas  e, de um  modo  especial,  com  colegas  e subordinados. Todos  gostam  de tratamento sim- ples e espontâneo.' Esse foi o conselho que  ouvi, em fins do ano  de 1949, do meu  pai, Alberto  Bellini, que  era o diretor industrial de uma  metalúrgica com aproximadamente 4 mil empregados na  época.  Eu era  jovem, tinha  22 anos,  e estava iniciando como sócio  na  Marcopolo, que  se  chamava  então   Fábrica  de  Carrocerias Caxiense  – Nicola &; Cia. Ltda., e teria empregados subordinados a mim, quase todos mais idosos do que eu.
"O que meu pai queria  dizer era uma espécie de 'Respeite os subordinados, principalmente os mais velhos; trate-os como trata toda a gente'. Esse conselho chegou no momento certo.  Era a primeira vez que  eu lidava com pessoas diferentes dos meus  amigos. Além disso, havia tudo  por fazer, e nós precisávamos  da criatividade daquelas pessoas. Segui o conselho e o resultado foi que todos crescemos  juntos."
RENATO BERNHOEFT
Presidente da Bernhoeft Consultoria Societária – Serviços de consultoria
"Eu estava com 19 anos de idade e me encontrava prestes a enfrentar minha  primeira experiência fora do País, no México, em um programa de desenvolvimento comunitário organizado pela  Unesco.  No treinamento para  participar do programa, um  diretor da Unesco me disse algo que jamais vou esquecer: 'Nunca compare os ideais de sua cultura com a realidade da cultura alheia'. É o melhor conselho que registro  até o momento em minha  vida. Fez-me começar a pensar  nas diferenças entre as pessoas e na importância de estarmos  atentos  a elas. Fez-me ver a relevância  de adotar  uma postura de respeito às diferentes culturas.
"Como  o Brasil é um  país multicultural, os brasileiros  dão  como  certo  seu respeito às diferenças. Esse é um mito. Quando os jovens me pedem um conselho, incentivo  que realmente vivenciem o diferente com respeito e com um esforço para compreender sem comparar. A comparação, em circunstâncias assim, é sempre  desonesta.
"Isso influenciou minha  vida tanto  no âmbito  pessoal como  no profissional. Por um lado,  sou um  gaúcho  que  descende de alemães,  casou-se com  uma  peruana e vive em São Paulo. Por outro, assessoro famílias empresárias das ascendências mais diversas e em todas as regiões do Brasil, e diariamente me dedico  a contribuir para que seus membros encarem suas diferenças internas como oportunidades."
DÉCIO DA SILVA
Presidente da WEG – Indústria de motores elétricos
"Meu pai costuma dizer o seguinte:  'Quando faltam máquinas, você as pode  comprar; se não tiver dinheiro, pode  pedir  emprestado; mas homens, você não pode  comprar ou pedir  emprestado, e homens motivados  por uma idéia são a base do êxito'.
"Em outras  palavras, seu conselho é: 'Motive as pessoas que trabalham na empresa'. Sempre o ouvi dizer isso, desde que me conheço por gente.  E, de fato, levamos essa idéia muito a sério na WEG, da fundação meu pai, Eggon João da Silva, foi um dos três fundadores aos dias atuais. Nós a repetimos exaustivamente, para todos os colaboradores.
"O que aprendi com esse conselho? Que, mais do que investir em produtos, temos de apostar  nas pessoas, porque qualquer resultado sempre  estará associado à maneira particular com que as pessoas desenvolvem seu trabalho. É essa bagagem, repleta de sabedoria e experiências, que gera o conhecimento da empresa e faz a diferença. É essa filosofia que nos tem levado a crescer e nos instigado  na busca de novos desafios."
GIOJI OKUHARA
Presidente da Faber-Castell – Material escolar e artigos de escritório
"Fazia pouco  tempo  que me formara em administração de empresas  e que fora pro- movido para a área de marketing da Colgate-Palmolive. Eu estava cheio de idéias teóricas, tinha acesso a vários relatórios de pesquisa de mercado, fazia estatísticas de performance de vendas. Mas, um belo dia, o sr. Bill Shanahan, que na época era gerente-geral da Colgate no Brasil, me deu o conselho mais importante da minha  carreira: 'Tome decisões basea- das em fatos, mas vá além, para entender o que está por trás deles. Você deve vivenciar a realidade do mercado, falando  com seu consumidor e com seu cliente'.
"O sr. Shanahan dizia para literalmente ir até a casa do consumidor e procurar entender quais eram  os seus sentimentos e razões para  escolher  determinado produto ou marca. Ele pregava também que se fosse até o cliente e se descobrisse  como estava a execução da sua estratégia versus a concorrência, quais eram seus desafios no ponto-de-venda.
"Sei que, quanto mais posições você galga na hierarquia de uma empresa e mais próximo fica do topo, mais difícil é seguir esse conselho. Os compromissos tendem a fazê-lo
permanecer no conforto do escritório e distante da realidade. Mas sei também que segui-lo é possível, pois eu o coloquei –e coloco– em prática em diferentes desafios. E a vivência do mercado deve ser ampla.  É importante vivenciar as Baixadas Fluminenses e Osascos, em vez de ficar só na Zona Sul ou nos Jardins. Deve-se vivenciar Caracas, Bombaim  e Xangai, mesmo que você prefira Paris ou Nova York. Vale acrescentar que o sr. Shanahan se tornou hoje o presidente mundial da Colgate."
CHIEKO AOKI
Presidente da Blue Tree Hotels – Serviços de hotelaria
"Quando me formei na faculdade, achava que estava preparada para conquistar o que desejasse. Sem querer cortar  as minhas  asas, meu pai me fez ver que não era bem assim; o caminho da verdadeira conquista na vida era outro. Disse meu pai: 'A nossa felicidade depende da felicidade de outras  pessoas; apenas  proporcionando felicidade é que conquistamos  nossa própria felicidade'.  Na hora  não o entendi muito  bem, mas, como boa filha de japoneses,  calei e aceitei. Só com o tempo  fui compreendendo a magnitude de suas palavras.
"Isso pode  parecer uma retórica fácil, mas trata-se de algo muito  difícil de incorporar e fazer  acontecer. Mais importante, é um  conselho válido em  qualquer circunstância, desde a vida pessoal até os treinamentos em hospitalidade que fazemos no Blue Tree com o objetivo de deixar  os hóspedes felizes e satisfeitos com os nossos serviços.
"Em nossos treinamentos, utilizamos uma frase da Madre Teresa de Calcutá que complementa o conselho do meu  pai de certa  forma:  'Não deixe  jamais que alguém  que se achegou de ti vá embora sem se sentir melhor ou mais feliz'."
FÁBIO BARBOSA
Presidente do Banco Real  ABN Amro  – Serviços bancários
"Escolhi dois conselhos para compartilhar. Um deles se aplica aos campos pessoal e profissional e me foi foi dado  por meu avô quando eu tinha  18 anos de idade:  'Nunca faça nada  de que  possa se arrepender'. Isso norteou todas  as decisões  que  tomei  na vida até hoje.  Não me sentia  confortável com aquilo?  Não teria  como  explicá-lo para minha filha, por  exemplo?  Poderia dar problema no futuro?  Não teria volta? Não, eu não faria.
"Quem  quiser  uma vida tranqüila deve experimentar esse filtro.  Hoje o conselho do meu avô já entrou no piloto automático –tomo decisões dessa maneira sem nem perceber, como uma segunda natureza. Mas, no início de carreira, me fiz essa pergunta centenas, milhares de vezes, disciplinadamente, e não seguia adiante até que houvesse uma resposta satisfatória.  Sou radical  em transparência e não  apenas  no  discurso.  Estou  convencido de que a vida é um encadeamento de coisas e de pessoas; portanto, tudo  que se faz tem conseqüências.
"O outro  conselho, este profissional, recebi de um antigo chefe na Nestlé, o sr. Ramos, quando eu estava no começo de carreira, por volta de 1982. Ele me recomendou: 'Procure se cercar de gente  que o complemente; ninguém é completo'. Sei que seguir esse conse- lho requer um grande esforço.  A tendência do ser humano é conviver com seus iguais. Pois eu garanto: trata-se do caminho mais fácil, porém não do melhor. É preciso  buscar a complementaridade."
LUIZA HELENA T. I. RODRIGUES
Diretora-superintendente do Magazine Luiza – Comércio varejista
"Eu tinha  11 anos e gostava muito  de dar  presentes. Minha  mãe  reagiu  a essa tendência  minha de forma  bem  diferente do usual.  No lugar  de dizer  'não  gaste', como fariam outras  mães da época,  ela me deu uma lição: 'Pense em ganhar o que você quer gastar'. Esse conselho foi muito  importante para  mim; atribuo ao exercício de buscar alternativas de ganho o hábito  de sempre  buscar solução para tudo, até para as situações mais difíceis.
"Eu também sou mãe e, quando meu filho começou em seu primeiro trabalho, eu lhe escrevi uma carta com alguns conselhos nos quais creio profundamente: acredite sempre em você mesmo e em sua fé no Absoluto; procure não mitificar coisas nem pessoas; tenha sempre uma atitude de troca: o importante é dar e receber; não abra mão por nada da sua ética, moral e crença na evolução do homem; saiba que você tem uma missão –descubra-a e lute por ela; tenha tempo  para tudo –organize-se, crie ritmo e rotina;  tenha paixão pelo que faz, pois só assim o fará melhor e mais fácil; seja sempre  você mesmo e nunca omita a verdade a transparência é importantíssima."
ROBERT WONG
Managing partner da P&L – Educação executiva personalizada
"Cresci ouvindo  dois grandes conselhos do meu pai, Jun Chow Wong, que nos deixou recentemente aos 98 anos. A primeira lembrança de um deles remonta aos meus 12 anos:
'Pense grande e aja grande'. Meu pai exemplificava didaticamente para  mim e meus ir- mãos: se for para organizar uma festa, que ela seja memorável; se quiser dar um presente, que seja verdadeiramente significativo. Esse conselho influenciou profundamente minha forma de viver.
"O outro  conselho paterno influenciou meu caminho pela vida. Para meu pai, educar era o mais importante, pois era o que levava as pessoas a realizar  seu potencial. A mensagem dele foi tão incisiva nesse sentido  que todos os seus filhos acabaram trabalhando com educação de um modo  ou de outro. Eu, por exemplo, me graduei engenheiro, fui headhunter, mas agora fundei uma empresa voltada para a educação de executivos.
"Quando era pequeno, eu sentia certo ciúme dos meus amigos ocidentais constantemente beijados e abraçados por seus pais. Meus pais raramente faziam isso e eu me perguntava se eles me amavam. Hoje compreendo quanto me amaram. A forma  chinesa  de amar  é educar. Quando beijamos  e abraçamos, criamos vínculo com o outro  e, assim, o prende- mos; quando educamos, nós o fazemos aprender, soltando-o  no mundo para que realize seu pleno  potencial. Meu pai amava tanto  os filhos que, em vez de nos prender, nos fez aprender. E, com esses dois conselhos, ajudou-me a buscar realizar meu pleno  potencial. Por tudo  isso, agradeço, a ele, a minha  mãe e a todos os meus ancestrais."
EMILIO UMEOKA
Diretor-geral da Microsoft Brasil – Serviços de desenvolvimento de software
"Estava cursando o penúltimo ano da Texas A&M University, nos EUA, e me preparava para  entrar no competitivo mercado de trabalho daquele país e um professor  me disse:
'Na sua vida, você terá  mais ou menos  20 grandes decisões  a tomar  –cinco  mais, cinco menos.  Quando se vir diante de uma delas, pense  bastante, pondere os prós e contras  e use bem sua intuição!'.
"Toda vez que tenho de decidir algo, eu paro e penso: será que esta realmente é uma das 20 decisões mais importantes que tomarei na minha  vida? Ou trata-se de uma simples decisão, banal e cotidiana? De certa maneira, posso dizer que esse professor  me ensinou a tomar decisões. E decisões são a tônica da vida. Uma frase em inglês, dita por esse mesmo professor, resume  o espírito  do que eu quero dizer: 'At the end of the day, life is about choice'. Traduzindo livremente, 'No final do dia, viver é fazer escolhas'."
ROGER INGOLD
Presidente da Accenture no Brasil – Serviços de consultoria
"Meus conselhos talvez pareçam óbvios, mas na  vida prática  são bastante úteis.  O primeiro é: sempre  se coloque na posição de seu cliente.  Imagine  a melhor forma de ele receber as informações que você quer passar e quais os valores importantes para ele e para sua empresa. Antecipe  –e tenha uma resposta  preparada para– as prováveis objeções que ele possa ter, imaginando o que o faria aprovar  ou rejeitar uma proposta.
"Esse conselho chegou a mim diversas vezes, mas me recordo que  o tema  relativo  à
'antecipação das objeções' tornou-se prioritário para mim em um treinamento de vendas de que participei há mais de dez anos, ministrado por uma empresa argentina chamada La Salle.
"Outro  conselho valioso que recebi  ainda no início de carreira foi: sempre  defenda a melhor solução  técnica  para  determinada situação.  Não caia na tentação de misturar o aspecto  político  nas decisões,  tirando a clareza do que é correto. Hoje tenho certeza  de que isso vale a pena.  É assim que você constrói  sua reputação."
JOÃO LUIZ SOUZA
Líder da IBM Business Consulting Services na América Latina – Serviços de consultoria
"Eu estava empregado em uma conceituada empresa multinacional de bens de consumo. Tinha  dois anos de formado e sete de experiência profissional. Já havia passado por cinco  organizações e não  me encantara com nenhuma das atividades  desempenhadas. Nem sequer  cheguei a conhecer os diretores das companhias em que trabalhei.
"Um amigo pessoal da mesma área me mostrou, então,  como virar o jogo. Ele sugeriu que eu procurasse trabalhar em uma empresa onde  minha  função  estivesse diretamente relacionada com o objetivo-fim do negócio. Assim, seria capaz de gerar diferenciais tanto para  a empresa como  para  a própria carreira. E eu troquei de emprego: fui para  uma empresa de consultoria de negócios  e de tecnologia.
"Isso fez muita diferença na minha  qualidade de vida. Afinal, passamos a maior parte do  dia dedicados a nossa  profissão  e é preciso  haver  satisfação  pessoal.  A partir  desse momento passei a ver o trabalho de outra  forma,  com mais prazer,  o que  reverteu em crescimento profissional."
CHRISTINA CARVALHO PINTO
Presidente do Grupo Full Jazz de Comunicação – Serviços de publicidade
"Recebi um conselho maravilhoso  de Alex Kroll, na época chairman mundial do grupo Young & Rubicam,  além de grande amigo e sócio. Começavam  os anos 90, eu presidia  a Y&R no Brasil e conversava com ele sobre  o crescente desestímulo que  vinha sentindo, apesar  do meu  sucesso profissional. Enxergava  alienação e superficialidade na área  de comunicação. Via gigantescas e rápidas  transformações no comportamento humano e, a despeito disso, a quase totalidade das corporações anunciantes e dos grupos  de comunicação mantinha a crença,  já então  anacrônica, de que para comunicar marcas o grande desafio  consistia  apenas  em elencar argumentos competitivos e apresentá-los de forma criativa. O consumidor não merecia nada  maior,  nada  mais relevante.
"A conversa com Alex me abriu  um portal  inteiramente novo quando ele disse acre- ditar  que,  dali para  frente, para  que  o marketing e a comunicação pudessem de fato cumprir suas missões e obter  maior  eficácia,  nós, profissionais, deveríamos buscar  não apenas  benefícios para  as marcas,  mas também benefícios para  os consumidores. Uma simples frase gerou  em mim um verdadeiro turbilhão de reflexões e insights. Levou-me a redirecionar toda a trajetória profissional, desde o dia-a-dia no trabalho até o modelo de grupo  de comunicação que me faria sentido, passando pelos novos serviços que deverí- amos oferecer não apenas  aos clientes,  mas a seus consumidores, à sociedade como um todo e ao nosso planeta. O Grupo  Full Jazz, que fundei  em 1996, foi fruto desse processo de redirecionamento.
"Eu diria  hoje  que  o grande desafio,  em  qualquer área  profissional, está não  em desenvolver  capacidades técnicas,  mas em  descobrir o verdadeiro significado do  que fazemos  e a relevância  do nosso  trabalho para  o ser humano. Nunca  façam nada  sem se perguntar: 'Para o que  serve o que  estou  fazendo?'.  A vida sem significado não  tem sabor nem  alegria."
EDUARDO BOM ANGELO
Presidente da Brasilprev  S.A. – Serviços de previdência privada
"Os conselhos mais valiosos que  recebi  trago  da  minha infância  e adolescência. Da minha mãe veio o ensinamento de que adquirir conhecimento permanentemente seria o meu  grande guia nos caminhos que  desejasse  trilhar e construir ao longo  da vida. Do meu pai vieram a ética e a transparência como princípios absolutos  em todas as relações.
"Segui essas referências naturalmente e, ao longo do tempo, descobri que se transformaram em minhas raízes mais importantes, meus pilares, os elementos do meu DNA. Eu sempre dou esses conselhos em aulas, apresentações, palestras e outros  contatos com jovens."
MAURICIO CESCHIN
Superintendente corporativo do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo – Serviços de saúde
"Quando tinha 28 anos, fui nomeado gerente de uma operadora de seguros de saúde. E descobri que meus subordinados, na maioria,  tinham sido meus professores na faculdade de medicina. Era meu primeiro cargo de gestão e meu pai me aconselhou: 'Ao contratar ou avaliar alguém,  lembre-se:  o que  ele sabe, nos ensinará; o que  não  sabe, aprenderá conosco, mas valores e princípios –éticos e morais– são formados muito antes de qualquer experiência profissional. A principal característica que diferencia uma pessoa das outras é o berço'.  Meu pai não se referia  a ser nascido  em classes sociais privilegiadas,  é claro, mas ao apego a valores e princípios, algo que se aprende ainda criança.
"Na área de gestão de saúde, era difícil encontrar jovens profissionais com experiência profissional e conhecimento técnico  específico e, a partir  desse conselho, eu me senti mais tranqüilo e passei a investir tempo  no desenvolvimento de profissionais com perfis e pré-requisitos adequados, que hoje são chamados de 'talentos'.
"Se eu fosse dar um conselho a alguém, seria algo na mesma linha. Eu apenas acrescen- taria outras lições que aprendi: viva intensamente, tenha experiências desafiadoras, se auto- conheça, enfrente seus medos, seja curioso, leia muito, escute, preste atenção ao que ocorre a sua volta, trate todos de forma igual, seja justo, ético e íntegro. E, principalmente, cuide de sua saúde, tenha prazer  e faça as coisas com amor."
ROGÉRIO OLIVEIRA
Presidente da IBM no Brasil – Produtos e serviços de tecnologia da informação
"Trinta anos atrás, eu tinha  acabado de passar pelo programa de treinamento de trainees da IBM e estava indo  a campo,  trabalhar em vendas. Um alto executivo  da empresa me entrevistou e disse: 'Você sempre  deve ser capaz de se colocar  no lugar do outro  em uma negociação. Isso é fundamental para construir uma carreira'. Esse executivo era uma espécie de coach da companhia e seu conselho me marcou profundamente.
"Eu era muito  jovem e a conversa  me ajudou a entender o que  é ser um IBMista e o que  significava viver os valores da companhia na prática.  Ajudou-me a enxergar, também, as possibilidades de carreira que a empresa podia me oferecer e como muitas delas desafiariam meus talentos. Foi nesse contexto que ele me aconselhou e eu percebi que era a chave para atingir  meus objetivos e crescer  como profissional. Quando você se põe  no  lugar  do outro, é possível ter  clareza  de até onde  ir, onde  ceder,  do que  não  abrir  mão,  de forma  equilibrada, que  busque  um  resultado de negociação ganha-ganha."
EDUARDO SOUZA ARANHA
Presidente da Souza Aranha Marketing Direto – Serviços de marketing direto
"Em 1992, estava almoçando com  Stan  Rapp,  guru  do  marketing norte-americano com o qual eu tinha  um relacionamento bastante freqüente. Na época,  eu encaminhava o reposicionamento da nossa empresa como agência  de marketing direto e ele fez uma observação que, para mim, se traduziu numa  contribuição única: 'Transforme seu cliente no seu melhor colaborador para identificar as idéias mais poderosas'.
"Naquele início da década de 90, quando predominava o distanciamento entre agência e cliente, o exercício de buscar idéias de forma conjunta e permanente, a fim de pavimentar o caminho criativo, era absolutamente inovador.
"Hoje posso afirmar, sem medo de errar, que, quanto mais profundo for o relacionamento entre agência e cliente na idealização de uma campanha, mais forte será seu resultado. Essa política de colaboração tem sido a razão de sucesso de inúmeras campanhas. Parece fácil, mas exige alto grau  de excelência e humildade na interação entre cliente  e agên- cia. Mas acho que a experiência deve ser aplicada  em qualquer setor de atividade.  Basta responder à seguinte  questão:  Estou transformando o meu  cliente  em um colaborador permanente para encontrar as melhores idéias?'."
EDSON BUENO
Presidente do conselho de administração da Amil – Serviços de assistência médica
"Sempre procure ver as coisas com seus próprios olhos e não através dos outros. Esteja no front, veja, ouça, sinta, energize-se. Essa sensibilidade do negócio é fundamental. Não adianta ficar  no  palácio  de cristal do escritório e ouvir outros  com  menos  experiência do  que  você lhe  dizerem o que  está acontecendo. Eles enxergarão as coisas de forma distorcida.
"Esse conselho é resultado de um mix de conselhos que vêm de gurus como Tom Peters, que manda a gente 'sujar a mão de graxa', até Peter Drucker, que prega o 'managing by walking around', administrar fora do escritório. Repito  o conselho em todos os nossos treinamentos. Mas não são todas as pessoas que consigo convencer. Por exemplo, tenho um executivo  que não sai do escritório. Ele fica lá das 7h às 19h. Se um terrorista puser uma bomba  no prédio, morrerá na certa. Se não houver terrorismo, estará perdendo opor- tunidades de negócios.  Oportunidades são enxergadas com os próprios olhos."

A reportagem é de Adriana  Salles Gomes, editora-executiva de HSM Management.
HSM Management 52 setembro-outubro 2005                                                                                                                     
Enviado por Fabricio Moraes

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