http://blogs.estadao.com.br/alexandre-matias/2012/01/22/kodak-yahoo-direitos-autorais-e-a-inevitabilidade-do-digital/
Para milhões, baixar gratuitamente é rotina
A Sopa e a Pipa foram o principal assunto da semana passada, mas
queria aproveitar para falar de outros acontecimentos ofuscados pela
briga entre a indústria de entretenimento e a de tecnologia, mas que
podem nos ajudar a jogar uma luz sobre a confusão legal a que estamos
assistindo.
Um deles é a concordata da Kodak e o outro, a demissão de Jerry Yang,
um dos criadores do Yahoo, do cargo de “cofundador e líder” do site
(sim, esse era seu cargo). Ambas notícias podem ser comparadas à
clássica anedota sobre a inevitabilidade do digital – quando as grandes
gravadoras do mundo resolveram processar seus próprios consumidores
(que, graças ao Napster, descobriram que era possível baixar música de
graça e à vontade) e deram início ao fim de seu próprio monopólio, o da
música gravada e lançada em mídias físicas.
A Kodak, uma empresa centenária, inventou a câmera fotográfica
portátil que a tornou sinônimo do aparelho que popularizou. Mas também
inventou a primeira câmera digital – na pré-história do mundo digital,
nos anos 70. Mas como também vivia de vender filmes, preferiu não
investir neste setor, com medo de perder o mercado analógico. Mas, ao
manter-se irredutível nesta posição, viu ao mesmo tempo o mercado que
queria proteger sumir e outras empresas assumirem as rédeas da
fotografia digital. Até mesmo de outros tipos de produto, como a Nokia,
que se consolidou no mercado de celulares justamente por apresentar boas
câmeras embutidas nos aparelhos. Sua cabeça-dura custou-lhe a própria
existência.
A mesma teimosia acabou fazendo Yang pedir demissão do principal
cargo do site que criou. O Yahoo, muitos nem sequer devem se lembrar, já
foi um dos titãs do mundo digital, numa época em que os sites eram
contados aos milhares e as conexões ainda eram discadas. Com a chegada
do Google, o site preferiu manter-se preso à lógica de portal, típica da
última década do século passado, em vez de apontar links para o resto
da rede. Fechou-se em si mesmo e apostava na possibilidade de ser
comprado ou fundir-se a algum outro gigante. A Microsoft foi quem mais
cortejou o velho líder das buscas, em vão. Até que a chegada de um novo
CEO, Scott Thompson, obrigou Yang a sair do holofote – e sacramentar o
fim de uma era.
O que nos leva de volta às polêmicas leis antipirataria que ameaçam a
existência da web como a conhecemos – não apenas nos EUA, mas em todo o
mundo. Não é a primeira vez que o Congresso norte-americano tenta
aprovar leis que tentam restringir o avanço da pirataria digital. Mas o
que estamos assistindo em 2012 é ao aumento da truculência e da força
política de uma indústria que, como a Kodak e o Yahoo, preferem não
abraçar o digital inevitável e agarrar-se a uma legislação que não faz
sentido em tempos digitais.
O lobby de Hollywood é poderoso e pode ter consequências
catastróficas para a rede. Imagine que o simples ato de linkar um vídeo
do YouTube no Facebook (que não seja autorizado por seu criador) possa
significar até cinco anos de cadeia. Como ironizou alguém no Twitter, se
você uploadar uma música de Michael Jackson na internet, pode pegar um
ano a mais de cadeia do que o próprio médico acusado de sua morte. Não
faz o menor sentido.
Fora que o que é chamado de pirataria pela indústria do copyright é
rotina para milhões (bilhões?) de pessoas por todo o planeta. Baixar
conteúdo gratuitamente é infração do direito autoral antigo, mas há mais
de uma pesquisa mostrando que, quanto mais alguém baixa conteúdo sem
autorização, mais gasta no mesmo tipo de conteúdo. As leis não devem
parar no tempo – elas devem mudar de acordo com as mudanças da
sociedade.
E se insistir nisso, os EUA podem matar seus principais produtos no
novo século: Google e Facebook vão ter que mudar completamente seus
negócios. Abrindo espaço para alguém, em algum país, criar seu próprio
clone de Google ou do Facebook e conseguir um público que antes era dos
EUA. E aí pode ser que o cabeça-dura da história seja o próprio governo
dos norte-americano.
Conheça mais sobre o tema neste Post http://maurocazetto.blogspot.com/2010/06/melhores-textos-gerenciamento-digital.html
Saiba mais aqui http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed678_o_templo_dos_downloads_sagrados e este aqui http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed678_contra_a_censura_e_o_obscurantismo veja os textos ao lado sobre SOPA e PIPA.
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